domingo, 20 de janeiro de 2013

A CULTURA JEQUIEENSE


O artesanato em couro na cidade de Jequié já foi motivo de forte comércio no referente município.
Na década de 1950 existiram diversas selarias e sapatarias, e isto gerava empregos nas oficinas e curtumes da cidade. A atividade do ramo do couro que mais representava na época era o seleiro. As selas de Jequié eram caracterizadas como as melhores. Tropeiros, boiadeiros, vaqueiros e muitas pessoas influentes adquiriam as selas fabricadas em Jequié.
O seleiro Edvaldo Souza, por exemplo, trabalhava com muita dedicação e apresentava um trabalho diversificado no ramo da confecção das selas, transformava uma simples pele de couro numa obra de arte. Seu Edvaldo chegou a fazer selas para outros países como os Estados Unidos e a Suécia.
Ainda no livro “Figuras típicas e Religiosidade Popular de Jequié” do autor Domingo Ailton, encontra-se trechos que faz ressalva a respeito deste comércio e ressalta o Sr Edvaldo Souza que vendia selas para o Rio de Janeiro, São Paulo e para outros países.
O Sr Edvaldo Souza já faleceu, porém atualmente seu filho Edvaldo Souza Filho conhecido por “Rocha” lembra com saudades daqueles tempos e hoje ainda fabrica selas, porém não nega a falta que sente do pai tanto na vida pessoal, quanto na profissional. Rocha trabalha também na confecção de bolsas, sandálias, e outros artigos de artesanato, atividade que desenvolve junto com o seu filho, Agnus, e isso nos permite entender que esta herança tem sido passada de pai para filho.
Este texto foi redigido em 18 de janeiro de 2013 pelo grupo de estudantes do quinto semestre de história da Universidade Estadual do Estado da Bahia (Uneb) em entrevista ao Senhor Edvaldo Souza Filho, popular “Rocha”.

Edvaldo Souza Filho no seu local de trabalho.

Sela confeccionada na selaria Edvaldo Souza.

Marcionilio de Sousa: o dominio dos coroneis na região de Jequie


Jequié é uma das maiores cidades do estado da Bahia, mas ela antes da sua emancipação na verdade era distrito de Maracás. Por volta de 1878, Jequié era um arraial em formação, com cinco ou seis casas cobertas de telhas, e as demais cobertas de palha. Somente dois anos depois Jequié foi elevado à categoria de distrito de Maracás.  O distrito, devido a sua localização privilegiada, era visto como um entreposto comercial e que alcançaria grande importância, assim passou a atrair cada vez mais moradores. Muitos deles, com o declínio da economia açucareira tentaram se recuperar aproveitando a potencialidade do comércio jequieense, impulsionado cada vez mais pela chegada dos italianos.
Porém, a riqueza e a prosperidade do distrito administrativo de Jequié provocaram inveja e cobiça. O latifúndio gerou a figura do coronel, que fazia das suas terras campo fértil para a criação de suas próprias leis. Nesse contexto surgiu então uma das figuras mais conhecidas da região, se tratando da prática do coronelismo: Marcionílio Sousa. Com o advento da República, a Bahia se tornou palco de disputa de poder por parte dos governantes da época, assim Jequié e boa parte de sua região viu eclodir batalhas entre duas facções rivais, denominadas pejorativamente “rabudos” e “mocós”, dando a ideia de serem ratos, associando a imagem do animal a roubos e saques.
Em Maracás, de quem Jequié dependia, Marcionílio Sousa chefiava os “rabudos”. Tais grupos apoiavam alguns políticos baianos, exigindo em troca que a polícia não interviesse nos conflitos entre “rabudos” e “mocós”. O Coronel Marcionílio Souza, ao perceber a ascensão política de algumas figuras que residiam em Jequié, e por receio de perder o controle sobre o território que fazia parte do município de Maracás apoiou incondicionalmente a onda de saques, assaltos, tomada de terras e assassinatos realizados por outro líder do grupo dos rabudos, Zezinho dos Laços.

            E assim, por anos houve essa disputa violenta pelo poder e ascensão entre os dois grupos rivais. Marcionílio obteve grande destaque no cenário regional até que em 1930 ocorreu a sua prisão, uma vez que os líderes do movimento “revolucionário” de 1930 temiam a organização de movimentos contrários ao projeto de centralização política implementado pelo governo de Getúlio Vargas. Esse momento, para Marcionílio, representou o início de seu declínio político e do poderio que exerceu durante a década de 1920 e que não mais se recuperou até o momento de sua morte em 1943. Já que o cenário da política brasileira e baiana após a ascensão de Vargas não mais daria espaço a esses grupos. E os coronéis que, a princípio, foram contrários ao movimento revolucionário, entre eles Marcionílio Antônio de Souza, viveram essa realidade com a perda do seu poder e prestígio político.



            REFERÊNCIAS:
ARAUJO, Emerson Pinto. A nova História de Jequié. Salvador: Ed. EGB.1997.
NOVAES, João Reis. De tropeiro a coronel: ascensão e declínio de Marcionillo Antônio de Sousa (1915-1930). Programa de pós-graduação em História. UFBA: 

Os principais chefes dos Rabudos: Foto pertencente ao Arquivo Municipal de Jequié: Da esquerda para a direita: Cassiano Marques (Cassiano do Areão), Mariano Coxo, Lucas Nogueira, Coronel Marcionillo Souza e José Marques(Zezinho dos Laços).

Marcionilio Antonio de Sousa

Tranquilino de Sousa: filho do Coronel Marcionilio, temido na região, devido à violência utilizada nos ataques aos inimigos.

Elza de Sousa Mello: neta do coronel Marcionilio de Sousa, filha de Antônio Rodrigo de Sousa, vulgo Antoninho. Elza casou-se com o jequieense Argemiro Mello e permaneceu em Jequié até o seu falecimento aos 92 anos em janeiro de 2007.

Os filhos de Elza Sousa Mello, netos de Antoninho e bisnetos do Coronel Marcionilio Sousa, todos residem em Jequié.

Cezar Costa e Daniel Costa: Trineto e tataraneto do Coronel Marcionílio de Sousa, residentes em Jequié.